18 de junho de 2016

Porque eu odeio o Google


Comecei a usar a Interwebs bem novo, não lembro ao certo com qual idade, mas lá pelos meus 15 ou 16 anos, por aí. Lembro quando meu pai comprou um computador novo e montado (nada de PC de marca) e o vendedor provavelmente empurrou um modem da USRobotics para o véio sem ele saber do que se tratava. Foi aí que tudo começou e isso é ótimo!

Também lembro que eu questionei a caixa do modem, para que servia. Eu não manjava muito de inglês tampouco de Internet, mas pelo que eu entendi era para conectar a alguma coisa. Então o véio foi atrás e descobriu a Mandic BBS. Esse foi meu primeiro contato com o mundo conectado. Lembro quando fui acessar um chat e pedia um pseudônimo. Procurei no dicionário e vi que era um apelido. Perguntei ao véio e ele falou que era tipo Batman. Então, esse foi meu primeiro apelido fake no mundo conectado. O segundo foi Bartman, em homenagem ao personagem Bart, dos Simpsons. eu tinha um adesivo dele vestido de super-herói na porta do meu armário, exatamente esse:


Usei esse apelido por anos.

Acessar uma BBS é tipo Android: só é legal nos primeiros meses. Depois, cansado de acessar apenas chats, horóscopos, notícias, jogar xadrez, descobri que havia vida além da BBS. Sim, a Internet. O browser. O Internet Explorer!


Essa geração nunca saberá como é realmente navegar na Internet pela primeira vez. Mesmo a Mandic liberando apenas 1 hora por dia (e muitos aqui criticando a neutralidade da rede), era tudo tão mágico. Para ter uma ideia de como era a Interwebs naquela época, navegue pelo TOR. Os sites são iguais.

Assim como na Deep Web hoje, a treta naquela época era descobrir sites. Não havia o Google. Você usava o Altavista que tinha links dos sites, mas não as páginas indexadas. Então a maior sacada do Page e Sergey foi justamente criar um site de buscas, onde um robô ia catalogando link por link de todas as páginas e quanto mais cliques a página tinha por solicitação, mais no topo estava. Foi algo genial na época que hoje foi usado para o consumismo.

A empresa começou a ganhar muito dinheiro com publicidade e começou a comprar outras empresas, justamente por se tratar de uma empresa com foco em publicidade e não em desenvolvimento de tecnologia. Google estava no auge, era a empresa queridinha dos hipsters.

Quando ela decidiu lançar o Google Mail vou um hype desgraçado. Naquela época o Hotmail era muito limitado e eu usava um serviço alemão GMX. Meu primeiro email com meu nome+sobrenome. Além do email dos provedores Mandic, STI, Uol, Sol (provedor do extinto SBT OnLine), Bol e serviços gratuitos como Base e HotPOP que nem existem mais.

Como eu fui um dos primeiros usuários do falido Orkut, recebi o convite do Gmail e ter um nome+sobrenome@gmail.com que foi mágico, finalmente um webmail decente "na nuvem" (o POP3 você baixa num software e é deletado do servidor) e com um nome digno, sem ser surfistazonasul3213@algumacoisa.



Então aí começou minha admiração e meu ingresso no ecossistema do Google, que foi fortalecido pelo Google Chrome e lacrado com o Android 2.1 Eclair pelo Motorola Milestone.


Alias, até quem usava iPhone também era fã do Google. Quem lembra da keynote do primeiro iPhone com o Steve Jobs falando bem do Google Maps? Do sistema push IMAP do Yahoo Mail? Sei que tem muita molecada que acha que o Android surgiu com o KitKat, mas vale a pena assister a keynote do lançamento do primeiro iPhone. não foi a toa que foi eleito o um dos dispositivos mais influentes da historia pela revista TIME.

Enfim, em 2007 eu era menos pobre, não tinha um iPhone e, pela admiração, resolvi comprar um Motorola Milestone com Android 2.1 Eclair na promoção por mil reais. Com mil reais eu comprei um celular topo de linha que vinha com carregador de parede, cabo usb, bons fones de ouvido... mas também veio um carregador veicular e um dock, espetacular. Minha maior decepção foi quando a Motorola atualizou para o Android 2.2 e ficou um lixo. Não só no meu celular, mas também com no da minha irmã, do meu primo e da minha vizinha, todos com o mesmo modelo. Foi então que eu decidi nunca mais comprar um Motorola. Bem, eu pensei que a culpa fosse da OEM, não do Google, certo? Certo.

Google começou a lançar vários aplicativos como finado Google Talk, espetacular.  Eu usava muito com minha finada. Tinha o Google Latitude, que eu podia acompanhar onde a finada e meus amigos estavam. Tinha o Google Reader, na época eu usava muito RSS para ler notícias e blogs. Esses e outros foram descontinuados. O Talk foi o mais complicado, usava XMPP, que é aberto, virou fechado, virou Hangouts e falhou miseravelmente, ninguém usa. Tanto é que agora vão tentar emplacar o Allo.

Lançou o Android 2.3 Gingerbread prometendo muitas melhorias, foi aí que descobri que a Motorola não iria atualizar o meu topo de linha, então fiquei com aquele sistema bugado, lerdo e passando raiva. Eu senti na pele o que era fragmentação, abandono e ódio. Uma coisa é um celular de x não ser atualizado em x+2. O Android Gingerbread foi lançado um ano depois do Eclair, então não tem desculpa de hardware incompatível.

Não podia culpar o Google, culpei a Motorola. Alias, todos os Motorolas que eu tive (C650 e U6) foram uns lixos.

Então o Google acabou com o Talk. Acabou com o Latitude, acabou com o Reader. Meu celular ficou obsoleto em pouco tempo. Fui ficando p*to da vida e voltei a usar o Hotmail (que virou Live, que virou Outlook), voltei a usar o programa Outlook do Office, usei o programa Zune para músicas e comecei a admirar a maravilhosa interface METRO. Quase comprei um Zune Player, mas era pobre. Voltei a usar o ecossistema da Microsoft, inclusive tentei usar o MSN Explorer e criei um email com meu nome+sobrenome@msn.com. Só Deus sabe como consegui. E fiz cagada de substituí-lo pelo meunome+sobrenome@outlook.com. Sim, @msn.com é muito mais curto e mais fácil de pronunciar e certos atendentes entenderem do que @outlook.com (pelo menos na época).

Eu ficava entre o @gmail.com e o @msn.com. Quando o Google resolveu abandonar de vez o Exchange ActiveSync para as contas gratuitas foi que eu resolvi migrar de uma vez por todas para o Outlook.com. Ironicamente era perfeito para sincronicar até mesmo no Android, que tinha suporte ao EAS, e logo mais usei no iPad. Para quem não lembra, no iOS tinha que configurar o calendário (CalDAV) e contatos (CardDAV) manualmente do Gmail, só depois a Apple fez uma parada para facilitar.

Foi aí que eu percebi que os serviços da Microsoft eram bons tanto no PC quanto no iOS e no próprio Android. Foi então que eu me interessei pelo Windows Phone 7. Por sorte, quando decidi abandonar o Android foi lançado o Windows Phone 8, que ficou comigo por 3 anos.

E também por sorte eu tinha migrado meus serviços para a Microsoft, pois o Google covardemente não lançou para o sistema. E não me venham falar em marketshare, pois quando a Apple lançou o iPhone também não havia participação no mercado, que era dominado pelos smartphones da Blackberry e da Nokia.

O slogan do Goole era Don't be evil, criticando a Microsoft pelo passado. Ironicamente ao longo do tempo ele foi se tranformando, inclusive abandonou esse slogan. Hoje é criticada por fechar seu ecossistema, abandonar projetos open-source, quebras de patentes e monopólio.

Eu gostava do Android do começo, sem bloatwares, mais independente etc. Pena que virou uma plataforma de publicidade com data mining e comissão via Play Store. Por isso que eu torço para o Tizen, pois é o verdadeiro Linux no mobile. Coisa que o Android deixou de ser.

Google patrocina muitos projetos, inclusive o maravilhoso KDE. Mas isso é o mínimo. Ele usa muita coisa da comunidade FLOSS, o mínimo era patrocinar. Problema é pegar esses projetos e chamar de seu. Não é a toa que leva processos de todo mundo.


Então eu não odeio o Google porque eu uso outro sistema. Eu odeio o Google porque eu usei seus primeiros produtos e fui me decepcionando e me revoltando.

Google é a nova Microsoft. Deal with it.